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Serie Manipulata
13ª exposição individual
SÉRIE MANIPULATA

Esta Série Manipulata (intervenção do modelo sobre as fotografias), que Mário Dias Ramos considerou “um erotismo de contrapartidas”, pretendeu ser um trabalho diferente dos anteriores, ainda que alicerçado em experiências e aprendizagens já ensaiadas. Foi inaugurada na galeria 1.3.5. de 7 a 30 de Maio de 1994. Em 1995 esta mesma série foi exposta em 31 de Março, na Galeria do Monumental Casino da Póvoa de Varzim e foi depois inaugurada no clube Artes 50, em Lisboa, de 30 de junho a 30 de julho. Em 1998 a Série Manipulata foi apresentada no Salão Cuvarrubias do Teatro Nacional de Cuba, em Havana. Tratou-se da inauguração da sua primeira grande exposição temática internacional. A cerimónia inaugural teve a presença do Embaixador de Portugal em Cuba, de representantes das entidades locais, dos órgãos de comunicação social, de individualidades do mundo das artes e do teatro, do Corpo Diplomático. A mostra, que teve o apoio da Embaixada de Portugal em Havana, despertou grande interesse junto dos meios culturais e artísticos cubanos, que elogiaram a qualidade e ineditismo das obras apresentadas.

“O Dr. Miguel Louro comunica especialmente com o mundo que o rodeia através do talento da sua arte. As suas fotografias são bem o exemplo disso, pois não só refletem, em si, a própria arte, como a beleza da arte da natureza. O culto da Mulher pela fotografia é qualquer coisa de profundo e fascinante. A exposição que realizou em Havana, quando eu era ali Embaixador, foi um claro sucesso, não apenas no campo puramente artístico, mas também no plano humano e social.” António Carvalho de Faria, Embaixador de Portugal em Sófia.

Ainda neste ano de 1998, Miguel Louro participou com “Série Manipulata” na 1ª Exposição de Artes Plásticas levada a cabo peja Direcção do Centro de Saúde de Esposende, de 10 a 30 de Outubro. Tal evento, segundo a organização, visava “aproximar o centro de saúde à comunidade, proporcionar um encontro entre os profissionais de saúde e promover os seus próprios artistas”.
Em 1994, a notícia do encerramento da exposição na galeria 1.3.5. fazia acompanhar algumas fotos com poemas de Mário Dias Ramos e lembrava aos leitores que este projeto de Miguel Louro já vinha de longe, mas só agora fora possível concretizá-lo.
“Lembrei-me de usar uma técnica que, ao fim e ao cabo, vem do início da fotografia, já que a primeira fotografia a cores não foi outra coisa senão a coloração manual de uma fotografia a preto e branco. Por que não voltar a esta ideia inicial? Por que não entregar ao modelo, neste caso alguém com sensibilidade e com preparação técnica, a criação da própria coloração da foto?” - Miguel Louro.
Este trabalho de Miguel Louro mexeu com os gostos do público, foi elogiado e vituperado, em extremos de críticas emocionadas e esteticamente comprometidas, críticas que ao fim e ao cabo revelaram a existência de inextrincáveis laços entre a fotografia e as ideologias, provando que não há olhares isentos, que onde um sujeito descobre talento, logo outro aponta a “manipulação” inconsciente do material produzido. Mário Dias Ramos, num texto motivador a que deu o título: “Um erotismo de contrapartidas”, pressentiu as reações do público e desejou mesmo que este trabalho «agitasse os espíritos adormecidos e perplexos». Escreveu ele:
“Consta que um daguerreótipo anónimo de 1843 exibe, em medalhão, um homem e uma mulher coloridos posteriormente à mão. A informação é-nos dada por Roland Barthes no seu livro “La Chambre Claire”, Éditions Gallimard, Paris, 1980.

Cento e cinquenta anos depois, Miguel Louro, na sua “Série Manipulata”, convida a mulher que lhe serviu de modelo para, posteriormente, pintar sobre as fotos do Artista, as zonas do seu próprio corpo - manipulare, isto é, preparar com as mãos um produto aqui prefigurado pela fotografia de um corpo de mulher nua.
Cumplicidade entre fotógrafo e modelo? Mas uma cumplicidade repartida, sim, entre a máquina do Artista e a mão do objeto fotografado - a mulher nua. Por outras palavras, a anatomia no anfiteatro: os olhos que retêm o corpo, as mãos que o manipulam, um corpo revisitado, um erotismo de contrapartidas.

Há aqui uma conjura. E há aqui um exorcismo. A conjura está nas mãos que manipulam a máquina; o exorcismo nas mãos dos dois, fotógrafo e modelo. Corpo duplamente acariciado (ou agredido?), não importa, pelo fotógrafo que, depois, oferece ao modelo o seu próprio corpo para que este, por sua vez, o decore assinalando-lhe o “punctum”, isto é, o pormenor. E é aqui que reside a essência dessa “Série Manipulata”.

Este notabilíssimo trabalho de Miguel Louro é um poema de alquimista.
Confirmando a maioridade de uma arte fotográfica dissecada, esteticamente controlada, um trabalho para agitar os espíritos adormecidos. E perplexos. É o que é preciso.”







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